Viajante do Mundo
Ao viajante do mundo.
Em braços teus de luz
(Onde chuva fina dança)
Entorno-te tórrida a alma toda
Feita das horas transparentes.
Descobre-me devagar,
Com dedos peregrinos,
Ousadia esquiva,
Sentimentos de renda e cetim
Da noite que chega jovem.
Acendem-se luzes.
Molham-me a alma
Cânticos de aves noturnas
Que nos seguem pegadas
Por notívagas esquinas vazias.
Candeeiros de rua
Mandam calar passeios, estradas, telhados molhados.
Etérea, a chuva cai submissa,
Traz no peit o peso fecundo
Das palavras não ditas no ainda.
Passa o tempo também,
Nu, cru, sem pudores, selvagem!
Sobra a noite exilada
Nos reflexos distorcidos
Da poça vadia, ondulante.
Tombada de ténue céu,
A madrugada vagabunda chega
Na chuva vagarosa que ainda cai...
Apago a luz.
Partes tu, fico eu...